Diretor Executivo da UNICA, Eduardo Leão de Sousa traça análise sobre influências do governo Biden no setor alcooleiro
Eduardo Leão de Sousa, diretor executivo da União da Indústria de Cana-de-Açúcar escreveu um artigo exclusivo para a AgriBrasilis sobre os impactos que o governo Biden pode trazer para o setor sucroenergético. Ele é diretor Executivo da UNICA desde outubro de 2007. Entre 2003 e 2007, foi economista-Sênior e coordenador Regional dos Programas em Agricultura e Meio Ambiente do Banco Mundial. Durante o período entre 1999 e 2002, foi coordenador-Geral de Produtos Agrícolas e Agroindustriais do Ministério da Fazenda. É Bacharel em Engenharia Agronômica, mestre e doutor em Economia Aplicada pela Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (ESALQ), da USP.
O setor sucroenergético brasileiro vive uma expectativa bastante positiva com a agenda ambiental do Governo Joe Biden. Há anos, os produtores norte-americanos de biocombustíveis pressionam pela efetivação do aumento da adição de etanol na gasolina de 10% para 15%. Ao levar em conta o enorme mercado estadunidense, a variação consumiria todo o excedente estrutural nas destilarias e geraria a necessidade de ampliar a oferta, seja por investimentos locais ou por importação.
Essa pode ser uma grande oportunidade para países que atuam no setor de biocombustível, porque, embora os EUA sejam o maior produtor mundial de etanol, fabricado a partir do milho, o aumento de 5% de mistura na gasolina norte-americana equivaleria a toda demanda interna de etanol do Brasil, segundo maior produtor no mundo. Juntos, EUA e Brasil respondem por 80% da oferta global de etanol.
Contudo, na nossa visão, mais importante do que as perspectivas para o setor nos EUA, é o fortalecimento do papel fundamental que o etanol tem na luta contra o aquecimento global, se consolidando como um agente de descarbonização. O etanol de cana-de-açúcar proporciona a redução de emissões em até 90% quando comparado à gasolina, com eficiência ambiental equivalente à de combustíveis de segunda geração, segundo a própria legislação norte-americana.
Outro passo importante nessa agenda vem do Reino Unido, que anunciou que vai implantar uma mistura de 10% do etanol na gasolina do país a partir desse ano, com o objetivo de melhorar a qualidade do ar. Mesmo caminho seguido pela Índia, que antecipou em cinco anos a sua meta de adicionar 20% de etanol na gasolina, até 2025, e anunciou a liberação da comercialização de etanol hidratado (E100), como já ocorre aqui.
No Brasil, há muitos anos a mistura obrigatória de etanol à gasolina é de 27%, o que proporciona 15% de redução da emissão de gases de efeito estufa. Consagramos os veículos flex-fuel, que quando abastecidos com etanol emitem quase 80% menos CO2 por quilometro rodado do que um carro com gasolina pura.
Assim, de 2003 até 2020, calcula-se que deixaram de ser emitidas mais de 515 milhões de toneladas de CO2eq graças à mistura de etanol anidro à gasolina e ao uso de etanol hidratado. Além de CO2, uma série de outros poluentes deixam de ser jogados na atmosfera na combustão do biocombustível, o que ajudou a recuperar a qualidade do ar de São Paulo, evitando que a megalópole registrasse índices de poluição elevadíssimos como ocorre em outras capitais globais.
E o futuro vem aí com os veículos híbridos-flex e os eletrificados movidos por meio de célula a combustível a partir do etanol. O biocombustível é um agente efetivo de descarbonização, redução de poluentes nas cidades e desenvolvimento econômico por aqui e pode fazer o mesmo nos EUA e em diversos outros países, particularmente naqueles situados na região dos trópicos e subtópicos, mais propícias para a produção de biomassa.
Fonte: Agribrasilis