Investimentos em fábrica de biodiesel a partir de semente de seringueira serão de R$ 10 milhões; novidade será anunciada no 13º Ciclo de Palestras sobre a Heveicultura Paulista, da Apabor
Rio Preto vai ganhar a primeira usina do mundo a produzir um biocombustível a partir da biomassa da seringueira. A iniciativa é resultado de uma parceria entre duas universidades da rede pública e uma empresa de agronegócios de Rio Preto. Juntas, desenvolveram um estudo inédito para a produção de um biodiesel extraído do óleo da semente de seringueira.
O anúncio sobre a pesquisa será feito aos produtores de seringueiras e participantes do 13º Ciclo de Palestras sobre a Heveicultura Paulista, que será realizado nos dias 24 e 25, no teatro Paulo Moura, em Rio Preto. O evento, que deve reunir mais de 400 produtores de seringueiras, é organizado pela Associação Paulista de Produtores e Beneficiadores de Borracha (Apabor).
“Vamos também fazer a entrega do Prêmio Paulo Gonçalves para o pesquisador André Gallina, pelo estudo inédito sobre o biodiesel a partir do óleo da semente de seringueira. O projeto é muito importante para o produtor de borracha, e mais uma ferramenta para a diminuição da emissão de gases poluentes no meio ambiente, com esse novo biodiesel”, afirma Diogo Esperante, diretor-executivo da Apabor.
Diogo explica que, na produção da borracha natural, é comum a semente de seringueira não ter um destino correto, sendo descartada por não ter a finalidade para novos plantios de árvores. “Já consagrada como uma importante sequestradora de carbono, a seringueira agora ganha mais um aliado, com a produção de biodiesel a partir de sua semente, para rentabilizar para o produtor todo este benefício gerado pela cultura enquanto esperamos pela regulamentação do mercado de créditos de carbono no Brasil, que deve destravar nos próximos anos, e se tornar mais um benefício ao produtor”.
Como convidado do ciclo de palestras, o pesquisador André Gallina, da Universidade Estadual do Centro-Oeste (Unicentro), campus de Guarapuava (PR), irá apresentar aos participantes e produtores de borracha sobre o aproveitamento da semente de seringueira. Também participam os pesquisadores da Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS), de Santa Catarina, que trabalham no estudo junto com o professor Gallina.
Nos dois dias do 13º Ciclo de Palestras, o diretor Diogo Esperante destaca a importância do mercado internacional, com palestrantes que vão discorrer sobre as bolsas internacionais em que a borracha natural, como commodity, está inserida. Entre os convidados, o especialista em indústria mundial da borracha, Jom Jacob, da Índia, que deve fazer uma análise de dados estatísticos sobre a produção e o consumo mundial de látex.
“Com análises sobre o comportamento das bolsas internacionais, Jom reúne mais de 30 anos de experiência de mercado que o credenciam como um dos mais experientes analistas em atuação hoje”, afirma Diogo.
Em outro painel, o destaque é Alvin Chew, de Singapura, país da Ásia, que está entre os maiores produtores mundiais de borracha natural. O convidado, segundo Diogo, é jovem e possui bastante experiência no mercado de commodities, além de liderar a construção do primeiro provedor de dados e inteligência de mercado da indústria da borracha.
Oito estudos com seringueira estão sendo feitos
O pesquisador André Gallina tem formação em Química e foi o responsável por liderar, junto com as professoras Letiére Cabreira Soares e Dalila Moter Benvegnú, da Universidade Federal da Fronteira Sul, e da aluna Sara Lüneburger, os estudos para o desenvolvimento de biodiesel de seringueira. Ele conta que as pesquisas começaram em 2017 e atua ainda em oito pesquisas com materiais da seringueira.
“Quando a empresa Kaiser Agro, de Rio Preto, nos procurou para o estudo do biediesel, foi firmado um acordo de parceria com as duas universidades e agora já estamos com novos projetos”, diz André. Ao iniciar a pesquisa, há quatro anos, o pesquisador afirma que o desafio foi enorme, já que não existia nenhum trabalho ou bibliografia sobre o desenvolvimento de biodiesel a partir da semente de seringueira.
O biodiesel da semente de seringueira já recebeu a aprovação da Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), segundo André, e já foi feito o registro através de uma carta de patente para a regulamentação do novo biocombustível. “Hoje, 70% dos biocombustíveis usados na mistura com diesel vêm da soja no Brasil. Isso atinge apenas 10% de todo o material de soja e outras matérias-primas vegetais que levam a mistura com o diesel. Então a seringueira, que não concorre com a cadeia alimentar, terá um grande ganho neste setor para o País”, ressalta.
Para o gerente geral da Kaiser Agro, Fábio Tônus, o investimento da ordem de R$ 10 milhões para a instalação da usina e a produção do biodiesel será mais uma fonte de renda para o produtor de borracha. A empresa foi a responsável por iniciar o trabalho com a universidade para desenvolver o novo biodiesel. “Nunca antes foi explorada essa semente, que ficava no solo, sendo até um problema para o produtor”, avalia Fabio.
Na próxima safra da borracha, em 2023, Fábio já prevê que a colheita da semente nos seringais do Noroeste Paulista. “Geralmente a semente é colhida uma vez por ano, entre o período de janeiro a março, e poderá ser estocada durante um período de quatro anos, até que a usina seja instalada em Rio Preto”. (CC)
Cacau e seringueira
O consórcio de seringueiras com o plantio de cacau será tema de palestras. A primeira terá como convidado o engenheiro agrônomo Paulo César Lima Marrocos, da Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira (Ceplac), da Bahia. O estado baiano é o principal produtor brasileiro de cacau. Paulo vai abordar os aspectos técnicos sobre a produção cacaueira.
No dia 25, o engenheiro agrônomo da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do estado de São Paulo, Andrey Vetorelli, vai falar sobre o projeto de consórcio entre seringueira e cacau que teve início em 2018 na região do Noroeste.
“Hoje temos 200 hectares de área plantada com cacau, na região, e no início de 2023, mais 50 hectares serão plantados. A ideia é apresentar o projeto para o heveicultor, sendo mais uma o cacau mais uma opção de negócio junto com a seringueira”, afirma Andrey. (CC)
Fonte:https://www.diariodaregiao.com.br/
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