A Petrobras estuda implantar no Brasil um hub de captura e armazenamento de carbono (CCS, na sigla em inglês). A iniciativa deve começar por um projeto piloto no terminal de Cabiúnas, em Macaé (RJ), uma das bases da principal província petrolífera do país.
Segundo o gerente executivo de reservatórios da companhia, Tiago Homem, a ideia do hub é criar uma infraestrutura de escoamento do CO2 a partir de locais de captura em instalações industriais – até seu armazenamento permanente feito em um reservatório abaixo do mar.
O investimento pretende ajudar a reduzir as emissões de gases de efeito estufa das próprias operações, e envolver outros setores, como indústria de cimento e siderúrgicas.
O primeiro passo será o piloto no Rio de Janeiro, com capacidade de capturar 100 mil toneladas de CO2 por ano. Também em fase de estudos, a implantação depende de análises complementares.
Homem explica que o projeto de Macaé vai contribuir para testar tecnicamente as soluções e ajudar o país a construir um arcabouço regulatório que fomente este tipo de projeto.
“A regulação é um dos principais desafios para o desenvolvimento de CCS no Brasil, assim como a busca por aquíferos salinos com capacidade de armazenar grandes volumes de CO2”, comenta.
Em seguida, o objetivo é criar um hub de CCS no Rio de Janeiro, que reúna grandes emissores industriais – os clientes potenciais do serviço prestado pela Petrobras. Esse cluster do Rio terá capacidade para 25 milhões de toneladas por ano. A companhia também está estudando outros pontos no país.
Esta não é a primeira vez que a Petrobras levanta o tema. No final de junho de 2022, a estatal chegou a anunciar um acordo com a Braskem para avaliar oportunidades de desenvolvimento conjunto de um hub de captura, uso e armazenamento geológico de CO2 (CCUS, o “U” significa que os projetos também usam o CO2 como insumo).
Tendência
A petroleira brasileira segue a direção de grandes empresas do setor de óleo e gás, que já começaram a firmar os primeiros contratos comerciais nos hubs que se desenham ao redor do mundo.
Em agosto do ano passado, Yara e Northern Lights, uma joint venture de propriedade da Equinor, Shell e TotalEnergies, firmaram o primeiro contrato internacional para transporte e armazenamento de CO2 no Mar do Norte.
A parceria prevê o transporte de CO2 capturado da fábrica de amônia e fertilizantes da Yara na Holanda para armazenamento permanentemente na plataforma continental na costa da Noruega.
Dois meses depois, a ExxonMobil e a fabricante de produtos de hidrogênio e nitrogênio CF Industries anunciaram o maior acordo comercial para capturar e armazenar permanentemente até 2 milhões de toneladas de CO2 anualmente na Luisiana, estado do sudeste dos Estados Unidos.
A CF Industries está investindo US$ 200 milhões para construir uma unidade de desidratação e compressão de CO2 em sua instalação de Donaldsonville, na Louisiana, para permitir que o carbono capturado nas suas operações possa ser transportado via rede de gasodutos.
Atualmente, existem 15 hubs CCUS no mundo, em vários estágios de desenvolvimento. Um estudo da McKinsey sugere que cerca de 700 clusters poderiam ser estabelecidos globalmente.
Direção mais verde
No que depender do novo diretor de transição energética da Petrobras, Maurício Tolmasquim, o plano da companhia para reduzir sua pegada de carbono nos próximos anos levará à diversificação do investimento em renováveis – além das eólicas offshore – e à busca de parcerias com outras empresas.
“Sem dúvida a gente tende a diversificar o portfólio de renováveis e não ficar apenas na eólica offshore”, disse Tolmasquim à agência EPBR, em sua primeira entrevista após assumir a pasta, durante a Offshore Technology Conference (OTC), em Houston, no Texas (EUA). Nessa missão, captura de carbono e hidrogênio entram em cena como fortes candidatas. “Eu acho que há estrutura para implementar tanto o hidrogênio azul, aquele produzido com gás natural, quanto o hidrogênio verde. As duas vias estão sendo exploradas pela Petrobras. Hoje, o hidrogênio, verde ou azul, ainda não é comercialmente viável, mas a tendência é ficar”, disse.
Marco legal
Considerado uma tecnologia emergente, o CCS ainda aguarda um marco legal no Brasil e há uma promessa de que essa demanda avance no governo Lula, com a retomada do programa Combustível do Futuro – e o foco que vem sendo dado na agenda de reindustrialização verde.
Durante audiência na Comissão de Minas e Energia da Câmara nesta quarta-feira, 3, o secretário de petróleo, gás natural e biocombustíveis do MME, Pietro Mendes, disse que o governo espera apresentar nas próximas semana o projeto de lei do Combustível do Futuro, que tem um capítulo dedicado ao CCS.
O texto permitirá, de forma voluntária, a utilização da tecnologia de captura e estocagem de CO2 por empresas ou consórcios. Também designará à ANP a competência para regular, fiscalizar e conceder as autorizações.
“Hoje, o que trava o desenvolvimento desse programa é não ter especificado qual é a agência responsável pela [regulação da] captura e estocagem geológica de CO2”, disse o secretário.
Além do setor de óleo e gás, o CCS promete ganhos ambientais para bioenergia e térmicas. Segundo Mendes, a produção de etanol pode ter a pegada de carbono negativa com a aplicação da tecnologia.
Fonte:https://www.novacana.com/
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