O presidente-executivo do JP Morgan, Jamie Dimon, acredita que os preços do petróleo poderão aumentar para US$ 175 o barril ainda este ano. Jeremy Weir, o presidente da trader de commodities Trafigura, diz que o petróleo poderá ficar "enigmático".
A consultoria Energy Aspects, que tem clientes que vão de fundos de hedge a companhias estatais de energia, diz que estamos enfrentando "talvez a maior fase de alta dos preços do petróleo em todos os tempos". O Goldman Sachs acredita que os preços do petróleo estarão "em média" em US$ 140 o barril no terceiro trimestre deste ano.
É tentador classificar esse surto em massa de expectativa de alta como uma conversa de bancos e traders posicionados para um aumento dos preços do petróleo no curto prazo - que já chegaram a US$ 120 o barril.
As grandes companhias de petróleo ocidentais continuam relutantes em investir. Mesmo que elas ignorassem a pressão para se tornarem "verdes", grandes empreendimentos fora da bacia de xisto dos Estados Unidos levam anos para entrar em operação.
Aqueles com boa memória lembram-se do aumento do petróleo para US$ 147 o barril às vésperas da crise financeira, quando o Goldman Sachs estava entre os principais incentivadores de um rali que rapidamente se inverteu quando a economia despencou. O petróleo custava US$ 40 o barril no Natal de 2008 e ainda assim as bonificações recebidas pelos operadores de energia de Wall Street no ano entraram para o folclore do mercado.
Mas embora sempre haja uma saudável pitada de ceticismo quanto às previsões de preços, você só precisa arranhar a superfície do mercado de petróleo para ver que essas previsões de alta estão, desta vez, bem fundamentadas.
A crise energética, que começou com a Rússia reduzindo o fornecimento de gás natural para a Europa antes disso se espalhar para o complexo das commodities depois da invasão da Ucrânia, está longe de terminar. É provável que ela piore antes de melhorar, com graves ramificações para a economia mundial, já abalada pela inflação.
A questão-chave é simples: mal há petróleo suficiente para circular. E com a produção de petróleo da Rússia atingida por sanções e se deparando com um caminho cada vez mais difícil para o mercado, há temores legítimos de que a oferta possa cair muito mais.
A União Europeia (UE) acaba de proibir carregamentos marítimos de petróleo russo, forçando a Rússia a enviar seu petróleo por distâncias cada vez maiores para compradores dispostos a fazer vista grossa para suas ações na Ucrânia. Índia e China compraram cargas com grandes descontos depois que muitos compradores da Europa se auto-sancionaram. Mas à medida que os volumes de petróleo russo deslocado aumentam, há dúvidas sobre a capacidade e disposição das refinarias da Ásia de continuar absorvendo-os.
O grande desafio é a iminente proibição do seguro na União Europeia e Reino Unido para navios que carreguem petróleo russo. Isso efetivamente tiraria a Rússia dos principais mercados de navios-tanque, deixando o país com opções muito reduzidas para o envio de seu petróleo. Os navios petroleiros não só precisam fazer seguro de cargas caras, mas também contra riscos como vazamentos ao estilo do ExxonValdez, com custos de limpeza de muitos bilhões de dólares.
Rory Johnston, um estrategista de commodities, afirma que a maior parte dos grandes portos simplesmente não aceitará navios-tanque sem proteção e seguro de indenização - um mercado que o Reino Unido e a UE dominam - e faz uma estimativa conservadora de que a queda na produção russa dobrará para cerca de 20% em relação aos níveis anteriores à invasão da Ucrânia, ou 2 milhões de barris/dia, até o fim do ano.
A produção russa poderá cair muito mais, com a Agência Internacional de Energia (AIE) prevendo uma queda de 3 milhões de barris/dia - o equivalente a quase toda a produção do Kuwait.
Não será fácil substituir esse déficit em potencial. Os governos ocidentais já recorreram a reservas estratégicas, liberando cerca de 1 milhão de barris/dia desde a invasão. Mas isso apenas moderou o aumento dos preços, e não o reverteu, além de não poder continuar indefinidamente.
Os únicos países com capacidade de produção sobressalente significativa são a Arábia Saudita e os Emirados Árabes Unidos, mas a capacidade de produção dos dois não é ilimitada. A produção da Arábia Saudita aproxima-se de 11 milhões de barris/dia, depois que ela concordou em aumentar ligeiramente a produção. Mas adicionar mais 1 milhão de barris/dia empurraria sua produção para um território desconhecido, sobrecarregando seus campos de petróleo se eles precisarem manter a produção lá por mais do que uns poucos meses.
Outros membros da Opep estão lutando para aumentar a produção até mesmo para os níveis pré-pandemia, depois de anos de má administração e investimentos insuficientes. Um possível acordo nuclear dos EUA com o Irã, que poderia liberar mais barris, é incerto. A disparada dos preços dos alimentos poderá causar distúrbios em muitos países produtores de petróleo, ameaçando ainda mais o abastecimento.
As grandes companhias de petróleo ocidentais continuam relutantes em investir. Mesmo que elas ignorassem a pressão para se tornarem "verdes", grandes empreendimentos fora da bacia de xisto dos EUA levam anos para entrar em operação.
Se a oferta está profundamente perturbada, o equilíbrio do mercado passa a ficar a cargo da demanda. Mas os governos fizeram cortes limitados nos impostos sobre combustíveis para apoiar o consumo, enquanto que a população, frustrada por dois anos de rupturas provocadas pela covid-19, mostra-se disposta a pagar mais pela gasolina nas bombas.
A China está reabrindo sua economia. As pessoas voltaram a andar de avião. A demanda está indo na direção errada. Todos esses fatores apontam para o aumento dos preços do petróleo até um nível que reduza o consumo, provavelmente desencadeando uma desaceleração econômica grande o suficiente para reduzir a demanda. Em outras palavras, uma recessão para muitas economias.
As autoridades poderão encorajar a conservação, desde a redução dos limites de velocidade até o restabelecimento de impostos. Mas as evidências até agora sugerem que elas estão mais felizes tropeçando em desastres do que incomodando os motoristas. Elas precisam esperar que quando o petróleo ficar barato novamente, os eleitores ainda terão um emprego para onde se dirigir.
Fonte:https://www.udop.com.br/
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