Para a ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva (Rede), o Brasil deve ajudar outros países na transição energética, a partir do potencial do hidrogênio verde, mas ele deve ser encarado como algo além de uma commodity.
A ministra defende que o país use suas vantagens comparativas e trabalhe no terreno da colaboração, transformando sua matriz renovável em produtos de valor agregado para exportação.
“O Brasil pode, não só ter uma base de energia limpa para as suas atividades internas, como também pode ajudar na transição energética de outros países a partir do potencial de hidrogênio verde”, disse nesta terça (27/2).
“Mas nós não queremos que o hidrogênio verde seja apenas mais uma commodity. Nós queremos usar essa energia para transformar a nossa matéria prima, criando novos produtos e materiais”.
Dados do Ministério de Minas e Energia (MME), apontam que o país tem “potencial técnico” para produzir 1,8 bilhão de toneladas de hidrogênio por ano.
Segundo Marina, o governo brasileiro está trabalhando para alinhar a agenda do G20 ao que foi acordado na última conferência climática das Nações Unidas (COP28), nos Emirados Árabes, quando os países concordaram em fazer uma transição para longe dos combustíveis fósseis, além de triplicar a capacidade renovável e dobrar a de hidrogênio, até 2030.
“Em Dubai, algumas questões aprovadas foram muito importantes, sobretudo, algo que parecia impossível: no coração dos países que exploram petróleo, dali saiu a proposta de transição para o fim dos combustíveis fósseis, o que significa altos investimentos, que teremos que fazer cada vez mais para que a matriz energética global seja renovável e segura”, observa a ministra.
Internamente, Marina apontou que MMA e Ministério da Fazenda estão organizando juntos os eixos do Plano de Transformação Ecológica.
Na parte de finanças sustentáveis, mencionou a parceria com o BID e Banco Mundial para facilitar investimentos verdes no Brasil. Além da reorganização do Fundo Clima, para mobilizar recursos internacionais.
A ministra participou na manhã desta terça de um painel do G20 organizado pela Câmara de Comércio Americana (Amcham), com a secretária do Tesouro dos Estados Unidos, Janet Yellen.
Yellen observou que a transição energética vai exigir investimentos sólidos em infraestrutura e tecnologia, criando novas oportunidades no Brasil e nos Estados Unidos.
De acordo com a secretária, estimativas recentes mostram mais de US$ 3 trilhões em oportunidades de investimentos globais associados à transição para emissões líquidas zero até 2050.
“São oportunidades gigantescas dentro dessa área”, comentou, afirmando que as renováveis estão ganhando cada vez mais competitividade em relação aos combustíveis fósseis.
“Esperamos que o Brasil, como um parceiro da administração Biden, também colabore com as iniciativas de cadeia de suprimentos limpas”, completou.
Prioridade do mercado doméstico
Publicado no início do mês, um estudo da Organização das Nações Unidas para o Desenvolvimento Industrial (Unido) defende que países emergentes, como o Brasil, priorizem a indústria doméstica em suas estratégias para desenvolver o mercado de hidrogênio de baixo carbono.
Na América Latina, além do Brasil, outros onze países publicaram ou estão preparando estratégias e roteiros nacionais para o hidrogênio: Argentina, Bolívia, Chile, Colômbia, Costa Rica, El Salvador, Panamá, Paraguai, Trinidad e Tobago e Uruguai.
A abundância de recursos renováveis posiciona a região como uma das potenciais grandes exportadoras de combustíveis a base de hidrogênio, como metanol, amônia e SAF (aviação) até 2050.
O desafio é garantir que os investimentos que serão feitos nesses países sejam revertidos na industrialização e geração de empregos locais, com a aplicação do hidrogênio em setores como aço, fertilizantes e produção de combustíveis, entre outros. Caso contrário, eles estarão apenas alimentando a descarbonização da indústria estrangeira.
No caso brasileiro, onde há mais de US$ 30 bilhões em projetos de hidrogênio verde anunciados, uma oportunidade está na siderurgia de baixo carbono. Levantamento da BloombergNEF indica que a produção de aço à base de hidrogênio verde pode ser a opção mais barata para descarbonizar esse produto até 2050.
Com reservas de minério de ferro e energia de base limpa e barata, o país é um dos fortes candidatos a receber siderúrgicas em busca de produção de aço com baixo teor de carbono a preço competitivo.
Por falar em aço de baixo carbono…
Petrobras e ArcelorMittal Brasil anunciaram, na segunda (26/2), a assinatura de um Memorando de Entendimento para estudar potenciais modelos de negócios que viabilizem o desenvolvimento de um hub de CCUS (captura, armazenamento e uso de CO2) no estado do Espírito Santo, onde a ArcelorMittal produz aços planos.
Regulamentação da estocagem de carbono
Apresentado esta semana, o relatório do projeto de lei do Combustível do Futuro (PL 4.516/2023) cria a figura do operador para estocagem de carbono (CO2), trazendo as definições das suas obrigações, e dá mais um passo na regulamentação da atividade de captura e armazenamento de carbono (CCS) no Brasil.
R$ 1 bi para minerais estratégicos
MME e BNDES irão lançar, durante o Prospectors & Developers Association of Canada (PDAC), no início de março, o Fundo de Investimento em Participações (FIP) Minerais Estratégicos no Brasil. Os recursos poderão ser utilizados por empresas júnior e de médio porte. A expectativa é mobilizar até R$ 1 bilhão, com aporte de até R$ 250 milhões do banco de desenvolvimento.
Comitê de Hidrogênio EUA-Brasil
Governos brasileiro e dos EUA lançaram na semana passada o Comitê de Ação de Hidrogênio Limpo do Diálogo da Indústria de Energia Limpa EUA-Brasil (CEID, sigla em inglês), para aumentar o comércio bilateral e incentivar parcerias de investimentos entre os dois países. A formação do grupo é um desdobramento da cooperação para a transição energética firmada entre o MME e o Departamento de Energia dos Estados Unidos em julho de 2023.
Ypê na autoprodução renovável
A empresa brasileira de limpeza Ypê firmou PPA de R$ 250 milhões com a Casa dos Ventos para autoprodução remota de energia renovável. A eletricidade será fornecida pelo Complexo Eólico Rio do Vento, localizado no Rio Grande do Norte, com 1.038 MW de capacidade instalada, energia suficiente para evitar a emissão de aproximadamente 2 milhões de toneladas de CO2 por ano na atmosfera. O contrato tem duração até 2039.
Fonte:https://epbr.com.br/
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