O hidrogênio como fonte de energia favorável ao clima foi um dos ativos mais concorridos e elogiados da chamada energia verde. Mas a realidade de seu alto custo tem cobrado o seu preço.
Nos últimos meses, alguns dos maiores desenvolvedores do combustível cancelaram projetos, cortaram pedidos e reduziram seus planos de investimento. O combustível de baixo carbono é simplesmente caro demais para estimular a demanda em muitos setores da economia.
Em 3 de outubro, a Origin Energy cancelou um projeto para produzir o combustível de queima limpa em uma área industrial no leste da Austrália.
“Ficou claro que o mercado de hidrogênio está se desenvolvendo mais lentamente do que o previsto, e ainda há riscos e avanços tecnológicos e de custo de insumos a serem superados”, disse o CEO da Origin, Frank Calabria, em um comunicado. “A combinação desses fatores significa que não podemos ver um caminho atual para tomar uma decisão final de investimento no projeto”, completou.
O chamado hidrogênio verde é produzido com o uso de eletricidade renovável para separar os átomos de hidrogênio e oxigênio da água. O produto resultante pode substituir o hidrogênio derivado de combustível fóssil usado atualmente nos setores de produtos químicos e de refino de petróleo e, potencialmente, para novas aplicações, como armazenamento de energia, produção de aço e combustível para navios.
A Origin Energy é apenas o exemplo mais recente de uma empresa que está recuando em seus planos. Alguns dias antes, a norueguesa Nel ASA, que fabrica as máquinas que produzem hidrogênio verde, disse que a Hy Stor Energy, com sede no estado do Mississippi, cancelou um pedido de 1 gigawatt de equipamento. Isso teria sido suficiente para construir, de longe, o maior projeto desse tipo nos Estados Unidos.
Além dos cancelamentos de empresas de capital aberto, companhias menores provavelmente estão fazendo mesmo com muitos outros projetos sem que isso se torne conhecido e ganhe visibilidade, de acordo com o CEO da Liebreich Associates e sócio-gerente da EcoPragma Capital, Michael Liebreich.
Ainda assim, Liebreich, que é analista e investidor, disse que isso pode ser um reinício positivo para o setor, ao permitir que projetos economicamente robustos sigam em frente. “Muitas pessoas estão simplesmente se afastando e isso é saudável”, disse Liebreich em uma entrevista à Bloomberg News. “Quanto mais realismo houver, melhor, porque podemos concentrar tempo, capital e talento em coisas que funcionarão, e não em coisas que não funcionarão”.
Há sinais ainda de que a demanda por hidrogênio crescerá nesta década, mas apenas uma pequena parte dessa demanda está sendo atendida por combustível limpo.
A produção de hidrogênio limpo deve aumentar mais de 40% e atingir 1 milhão de toneladas em 2024, embora isso ainda represente apenas cerca de 1% da atual demanda global de hidrogênio, de acordo com a Agência Internacional de Energia (AIE). Projetos com mais 3,4 milhões de toneladas de capacidade precisam chegar a uma decisão final de investimento, segundo a AIE.
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