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Efeito Petrobras? Analistas citam distribuidora que pode pagar até 10% em dividendos


As distribuidoras Ultrapar (UGPA3), Raízen (RAIZ4) e Vibra (VBBR3) têm um cenário muito positivo para os próximos meses. Segundo analistas, estas empresas vão se beneficiar dos preços mais estáveis dos combustíveis – estimulados pela nova política de preços da Petrobras, que tem como premissa ser competitiva para estes clientes.

Quando extrai o petróleo, a Petrobras pode optar por exportar ou vender o recurso para as refinarias no mercado interno. Em caso da segunda opção, o destino pode ser as próprias refinarias ou as de concorrentes como a Acelen, empresa do fundo Mubadala Capital, entre outros.

Nas refinarias, o petróleo é transformado nos derivados como gasolina, diesel, querosene de aviação, gás liquefeito de petróleo (GLP, gás de cozinha), óleos lubrificantes e nafta. Após o processo, esses combustíveis são vendidos para as distribuidoras de energia.

Para fornecer combustíveis ao cliente final, as distribuidoras têm três alternativas: comprar os combustíveis diretamente da Petrobras, adquirir de concorrentes como Acelen, ou importar do mercado internacional.

Um dos objetivos da Petrobras com a sua nova política é garantir o menor preço possível para estas distribuidoras, de forma que adquiram o máximo de suprimentos e garantam a lucratividade da empresa.

Analistas destacam que isso pode ser muito positivo principalmente quando o preço do petróleo internacional estiver elevado, porque a Petrobras deve demorar para repassar essa alta e as distribuidoras podem comprar da companhia por preços menores.

Em contrapartida, quando o petróleo internacional tiver baixa, essa queda na cotação deve demorar a ser repassada no mercado local, fazendo com que as distribuidoras prefiram importar ao invés de comprar da Petrobras.

Principais benefícios

Um dos benefícios citados pelos analistas é a estabilidade, afinal, as distribuidoras vão ter uma volatilidade menor nos preços e nas vendas dos produtos delas. Isso pode auxiliar as companhias a se programar melhor para comprar mais barato da Petrobras nos momentos de alta do petróleo e importar mais barato na queda da commodity.

Paulo Albuquerque, analista e sócio da Quantzed, acredita que com o tempo as distribuidoras passarão a importar cada vez menos por conta do custo envolvido no processo, que é caro e burocrático.

“A importação é vinculada ao preço internacional da commodity, então demanda alto custo de hedge para reduzir a volatilidade dos preços, com impacto inclusive no seguro do transporte da mercadoria”, afirma.

Com menos importação, Albuquerque acredita na redução de custos operacionais e financeiros das distribuidoras, movimento que contribuirá com o aumento do lucro e queda do endividamento das empresas.

“Há uma tendência de melhorar o perfil da dívida, já que a Petrobras sinalizou que deve flexibilizar condições de pagamento e prazos. Isso vai reduzir o custo de gerenciamento de estoques das distribuidoras”, aponta.

O analista acredita que com contratos de fornecimento duradouros, seja possível ter melhores condições para o longo prazo, com um preço-médio dos combustíveis.

Outro benefício seria que Raízen, Vibra e Ultrapar também possam ser mais competitivas diante das bandeiras brancas – postos menores que não são vinculados a nenhuma distribuidora de combustível – porque dificilmente estes serão proporcionalmente atendidos como as grandes distribuidoras, explica Ilan Arbetman, analista da Ativa Investimentos.

“Vibra tem 92% dos suprimentos feitos pela Petrobras, Ultrapar tem de 85% a 90% do seu portfólio provido pela Petrobras”, detalha. “Grandes distribuidoras têm acesso maior a um supridor barato e isso traz ganho de escala e pode ser replicado na rede de postos”, pontua Arbetman.

Segundo o analista, para um posto bandeira branca seria muito difícil ter 80% ou 90% do suprimento ligado a Petrobras. “Eles vão precisar comprar no mercado internacional com preços mais altos e repassar isso nos postos. Então perdem competitividade”, avalia o analista da Ativa.

E não apenas perdem competitividade como também participação de mercado (market share), destaca João Abdouni, analista da Levante Corp. Isso porque Raízen, Vibra e Ultrapar tendem a ganhar market share das bandeiras brancas e expandir, como já aconteceu no passado, com venda maior de combustíveis e aumento da lucratividade.

A melhor alternativa para dividendos

Diante de um cenário de forte lucratividade, geração de caixa e queda do endividamento, os analistas acreditam que a Vibra (VBBR3) é a melhor alternativa para quem busca dividendos do setor de distribuição de combustíveis.

Arbetman cita que a companhia se destaca frente aos pares justamente por conta da sua política de dividendos. Enquanto a Vibra prevê ter um payout (parcela do lucro líquido destinada a proventos) de 40%, Ultrapar paga apenas o mínimo obrigatório de 25% e Raízen estabelece no seu estatuto que a remuneração dos acionistas não pode ser inferior a 1% do seu lucro líquido ajustado.

“Pela porcentagem do lucro, Vibra vale mais a pena. Mas o desempenho e o lucro das companhias podem fazer com que seja diferente”, comenta o analista.

Para Arbetman, com o petróleo na faixa de US$ 70 e US$ 80, ainda não será perceptível uma grande diferença no caixa das distribuidoras, que deve melhorar em cenários de alta da commodity.

Abdouni, da Levante, também tem recomendação para a Vibra na carteira de dividendos, por conta do seu histórico. “Nos últimos anos quem teve a maior distribuição de dividendos foi a Vibra”, diz.

Para 2023, Abdouni espera uma distribuição em linha com os anos anteriores e um dividend yield (retorno em dividendos) de 5%. “A Vibra neste momento é o player mais concentrado na compra e venda de combustíveis, apesar de ter iniciativas para diversificação”, aponta.

Albuquerque, da Quantzed, também é otimista com a Vibra por conta do seu histórico de remuneração e acredita que a companhia possa entregar no mínimo um dividend yield de 6,5% neste ano. “Mas podemos ter surpresas com um dividend yield na casa dos 8% ou 9% para 2023”, diz.

Júlio Borba, analista da Benndorf Research, enxerga a Vibra como a maior geradora de caixa e pagadora de dividendos do setor, por conta do seu momento operacional atual e fatores que podem liberar caixa. “Fatores como crédito fiscal, menor necessidade de capital de giro e a venda da distribuidora de gás no Espírito Santo”, destaca.

O analista defende que após sua privatização, a Vibra se mostrou uma forte geradora de caixa, contudo, ainda precisa se provar no mercado como uma boa alocadora de capital na estratégia de diversificação de receitas. “Esperamos um dividend yield na casa dos 10% para 2023”, comenta Borba.

Riscos

O investimento em Vibra também tem seus riscos. Um deles está relacionado a um rumor de que a Petrobras estaria de olho em uma possível compra de participação na distribuidora, junto a Previ (fundo de pensão do Banco do Brasil). A petrolífera negou o interesse e apontou que a informação era inverídica, contudo não foi suficiente para descartar das teses de alguns analistas sobre o futuro da distribuidora.

Os analistas ressaltam que o estatuto social da Vibra estabelece uma pílula de veneno (poison pill) para acionar a oferta a 100% das ações por qualquer participação de investidor de 25% ou mais, com a avaliação estipulada como sendo o maior preço cotado da ação nos últimos 18 meses mais 15%. O valor seria de R$ 28,00 atualmente.

Para Arbetman, a Petrobras tem capacidade de arcar sozinha com a compra de uma participação na Vibra, no entanto, a companhia também poderia optar por outros métodos como pagar com as próprias ações. “Para quem tem Vibra, se a Petrobras comprar sozinha em dinheiro a participação é algo muito bom. Mas se pagar com ações, o acionista da Vibra precisa refletir se também quer ser acionista da Petrobras, são riscos diferentes”, pontua.

Segundo Arbetman, tem ainda a possibilidade de a Petrobras adquirir a participação junto a Previ ou outros agentes, o que acabaria burlando a poison pill e dar lugar a disputas judiciais.

Outro risco em caso de uma eventual participação da Petrobras seria a mudança no longo prazo no payout e na distribuição de proventos da Vibra, aponta Abdouni, dado que o governo não é muito favorável ao pagamento de dividendos elevados.

Abdouni cita como risco a não renovação da bandeira BR por parte da Petrobras no ano de 2026, que obrigaria a Vibra a mudar toda a sua estratégia de comunicação e marketing.

Albuquerque reforça que o governo pode querer revisar a privatização da Vibra, com uma tentativa de a Petrobras retomar o controle da distribuidora.

Para valorização

Para estratégias de ganho de capital, a preferência da Levante é pela Raízen (RAIZ4). Abdouni avalia que a companhia trabalha com distribuição mas também com o setor sucroalcooleiro (Açúcar e álcool), sendo a maior produtora do mundo de etanol, com uma moagem de 105 milhões de toneladas por ano.

“É um negócio com potencial de crescimento e que pode seguir sendo incentivado pelo atual governo. Os preços do açúcar estão interessantes no mercado global”, defende o analista da Levante.

Para ele, a Raízen garante exposição a dois negócios com fortes vantagens competitivas no Brasil. Apesar disso, pontua que a companhia tem um endividamento elevado que deve ser acompanhado e é um ativo com forte volatilidade. “Para capturar essa oportunidade, uma alternativa com menos volatilidade seria investir via holding nos papéis de Cosan (CSAN3)”, aconselha.


Fonte:https://www.infomoney.com.br/

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