O Brasil larga na frente nos debates sobre biocombustíveis no âmbito do G20, avalia o CEO da Raízen, Ricardo Mussa. A companhia brasileira atua nos ramos de açúcar, etanol e distribuição de combustíveis e geração de energia renovável.
Para o executivo, com políticas públicas corretas, o país pode direcionar o uso de energia elétrica mais barata para a indústria, liberando recursos para reforço a exportação de produtos de maior valor agregado. Ele participou nesta segunda-feira, 29, do evento Negócio 20 (B20, na sigla em inglês), no Rio de Janeiro (RJ), o primeiro da presidência do Brasil no G20, o grupo das maiores economias do mundo.
“O Brasil começa a ter muita energia elétrica barata, solar e eólica. Vou dar um exemplo da nossa indústria. Hoje, uso meu próprio bagaço (de cana-de-açúcar) para rodar a usina. Mas ele pode virar etanol. Por que, ao invés de rodar a usina a bagaço, a gente não pega essa energia barata que está sobrando para industrializar o Brasil? E aí pega o bagaço para exportar como etanol”, sugere.
Como energia elétrica não pode ser armazenada nem exportada, explica Mussa, seria uma forma de usar esse insumo localmente e liberar recursos para exportação. Ele coordena a força-tarefa voltada para transição energética e clima no âmbito do Negócios 20 (B20, na sigla em inglês), fórum de debates empresariais do G20.
Fomento é desafio
Para ele, é importante discutir quais as decisões e políticas públicas mais adequadas para cada região ou país. A eletrificação da frota de veículos, por exemplo, faz mais sentido em países desenvolvidos, como da Europa, ou mesmo para a China. Enquanto isso, para o Brasil e outros países emergentes, o mais adequado é optar pelo uso de biocombustíveis.
“Tem espaço para todos. O Brasil tem a vantagem de ter o etanol. Para a gente, ter o carro elétrico é uma decisão muito mais do consumidor do que de governo. Não vejo necessidade de o governo fazer uma política para o carro elétrico”, diz o produtor de etanol, frisando que o país já é exemplo e conta com solução viável em biocombustível, estando à frente nesse debate.
O desafio para avançar, reconhece ele, está em fomento, que é algo que pode ser discutido e resolvido no âmbito do G20. O etanol funciona ainda como ponte para a produção de hidrogênio, outra frente importante em energia verde, destaca Mussa.
“É uma forma de armazenar e transportar hidrogênio. E só separa lá na ponta. Começamos a testar fazer um reformador de hidrogênio no porto. Aí se consegue criar uma rede de hidrogênio”, aposta ele. “A gente tem terra, sol, chuva e cana-de-açúcar. O Brasil tem uma condição muito única para ser um protagonista, inclusive na exportação”.
Combustível para aviação
Mussa frisa que faz também sentido o Brasil avançar na produção de combustível sustentável para aviação (SAF, na sigla em inglês). “Se tiver política pública, o Brasil tem toda condição de ser um grande protagonista no mercado de SAF, do etanol para jatos”, afirma.
Ele avalia que o setor de aviação fará sua descarbonização a curto prazo, porque aviões têm vida útil muito superior à de carros e ônibus e são fortes emissores de gases de efeito estufa.
Para ele, os governos vão impor regras para a adoção de SAF de forma mais agressiva. A questão, agora, são que incentivos de governo serão adotados para que isso ocorra mais rápido.
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