top of page

Alta de 46% na gasolina força mudança de rotina das famílias



Na inflação acumulada do último ano, os combustíveis foram um dos grandes responsáveis pelo aumento médio dos preços.


Há um ano, em janeiro de 2021, encher de gasolina comum o tanque de um carro com capacidade para 45 L custava R$ 210,91. Considerando que o gasto médio de combustível de um modelo popular é de 15 km/L, o tanque cheio permitia andar uma distância de 675 km. É mais ou menos a distância entre Belo Horizonte e Ituiutaba, no Triângulo Mineiro – um percurso de mais de nove horas. Hoje, janeiro de 2022, os mesmos R$ 210,91 não enchem nem 70% do mesmo tanque com gasolina. Fazendo o mesmo trajeto, em direção ao Triângulo Mineiro, só daria para chegar até a cidade de Santa Juliana, que fica a três horas de Ituiutaba.


A comparação é apenas um exemplo, hipotético, do que todo brasileiro já percebeu: os combustíveis aumentaram muito de preço ao longo do último ano. Os valores, levantados pela Agência Nacional do Petróleo, Gás e Biocombustíveis (ANP), revelam um aumento aproximado de 46% no preço final da gasolina em BH. Com os outros tipos de combustível, o cenário não foi diferente, ao longo do último ano: o etanol ficou 65,5% mais caro, passando de R$ 3,20 para R$ 5,297 o litro, em média, nos postos da capital; o diesel S10 passou de R$ 3,828, em janeiro do ano passado, para R$ 5,352 na primeira semana de 2022, um aumento de 39,8%.


Na inflação acumulada do último ano, os combustíveis foram um dos grandes responsáveis pelo aumento médio dos preços. Segundo o Instituto de Pesquisas Econômicas, Administrativas e Contábeis (Ipead) da UFMG, o acumulado do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) ficou em 9,63%, em Belo Horizonte.


Na casa da técnica em edificações Vilma Araújo, a rotina da família – que inclui ela, o marido e dois filhos – foi totalmente afetada pelos aumentos do último ano. “Mesmo trabalhando relativamente perto de casa, eu não consigo mais arcar com o deslocamento de carro. Passei a andar de ônibus todos os dias, mesmo com os riscos de contaminação pela Covid”, conta. Ainda assim, a conta tem apertado: “Estamos abrindo mão de algumas coisas do orçamento doméstico, mais supérfluas, mas que antes conseguíamos pagar, para poder arcar com o preço do combustível”, diz.


Causas

Segundo o economista do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV-IBRE) Matheus Peçanha, o aumento dos derivados de petróleo começou em 2020, motivado principalmente por dois fatores: o câmbio e o barril de petróleo. “Por causa das incertezas dos investidores, no cenário de pandemia, o dólar chegou a um patamar histórico, saltando de pouco mais de R$ 3 para quase R$ 6 em pouco tempo. Além disso, os países da Opep, produtores de petróleo, restringiram a produção pela diminuição da demanda global, o que elevou o preço do barril”, explica.


Como o país importa os refinados de petróleo e os valores são todos em dólar, a Petrobrás promoveu diversos aumentos no preço dos combustíveis para acompanhar o mercado internacional. Em 2021, esses reajustes da gasolina foram ainda maiores nas refinarias do que para o consumidor final: 65,2%, segundo o Sindicato do Comércio Varejista de Derivados do Petróleo de Minas Gerais (Minaspetro). “Com a gasolina cara, as vendas caem bastante”, diz o presidente da entidade, Carlos Guimarães.


Dói até no bolso de quem não usa carro

País de dimensões continentais, o Brasil tem uma malha viária gigantesca, de mais de 120 mil quilômetros de extensão. Por ela, segundo dados do Painel do Transporte Rodoviário da Confederação Nacional do Transporte (CNT), circulam quase 7 milhões de caminhões, levando todo tipo de mercadoria pelo país afora.


“A maioria dos fretes no Brasil é realizada por caminhão. Se o diesel aumenta, o custo do transporte sobe e é embutido no preço que aparece na feira ou na gôndola dos supermercados, por exemplo”, diz Matheus Peçanha, do FGV-IBRE.


O preço do transporte público também pode ser impactado pela alta dos combustíveis: “O reajuste que costuma ocorrer em janeiro, fevereiro, na maioria das cidades brasileiras, também vai incluir o impacto do preço do diesel, com certeza”, afirma Peçanha.



Por ANA LUIZA BONGIOVANI

Fonte: www.otempo.com.br


16 visualizações0 comentário
bottom of page